Travessia Parque Nacional da Serras dos Órgãos


Considerada uma das travessias mais bonitas do Brasil, a Petrô-Terê, como é carinhosamente conhecida, é uma travessia de dificuldade moderada, embora tenha também seus desafios. Apesar de facilitada pela estrutura dos abrigos, contando até mesmo com banho quente, a trilha a ser percorrida segue por diversos tipos de terreno, podendo apresentar muitas dificuldades para os menos experientes.

Como a viagem seria longa até lá, resolvemos chegar um dia antes e pernoitar no camping da Sede Teresópolis. Viajamos num grupo de 10 pessoas e 3 carros, saindo por volta de 13:00 hrs e chegando lá às 20:00 hrs, já com o camping reservado pois o parque fecha às 18:00 hrs. Assim deixaríamos os carros no estacionamento da sede e pegaríamos um taxi até a sede Petrópolis. Após montado o acampamento, fizemos um jantar, bebemos um vinho para relaxar da viagem e fomos dormir.


Nascer do Sol na Pedra do Sino


1º  Dia de Travessia

Enrolamos um pouco para levantar e arrumar as coisas. Perdemos também muito tempo fazendo o registro de entrada ainda na Sede Teresópolis, além da demora de conseguir uma condução para a Sede Petrópolis. Há taxistas que fazem este serviço mas também é possível achar algum motorista de aplicativo, variando aí o valor entre R$ 100,00 e R$ 200,00. A viagem é de mais ou menos 1 hora e 40 minutos.

Chegamos na Sede Petrópolis pouco depois do meio dia, o que já era bem tarde para se iniciar uma caminhada. Tivemos também de fazer o registro das entradas novamente e só conseguimos começar de fato quase 13:00 hrs.

O primeiro trecho a trilha é normal, já começa a subir mas é bem encoberta pela belíssima mata atlântica. Passamos pela bifurcação que leva à Cachoeira Véu da Noiva mas resolvemos seguir em frente. A trilha vai subindo até um ponto onde deriva à direita, passando por um topo de um morro onde se tem uma bela vista para o vale. Neste ponto passamos pela Pedra do Queijo, uma pedra de formato oval com um belo visual.

Vale visto da trilha para o Morro do Açú

A trilha continua a subir até um local conhecido como Ajax, onde há um ótimo ponto de água. Neste local a vegetação já começa a ser mais de altitude, já com muitas pedras dominando o ambiente. A trilha vai serpenteando até o início da Isabeloca, uma subida em zigue-zague pela encosta da montanha até o topo do morro, ou Alto da Isabeloca. A trilha continua a partir dali pela esquerda, sempre subindo, passa por um mirante e sobe um pouco mais até o topo do morro do Açú, um extenso planalto onde se encontra os Castelos do Açú, a mais de 2150 metros de altitude.

Já estava bem cansado quando avistei os Castelos de Açu. Segui em frente entre as pedras hipnotizado pelas belas formações rochosas. Pouco abaixo também já avistei o Abrigo do Açú, onde me apressei a chegar para deixar a mochila e já escolher o melhor lugar para dormir.

Noite nos Castelos do Açú

Castelos do Açú

Os abrigos, tanto o Abrigo do Açu quanto o Abrigo 4, na base da Pedra do Sino, são muito bem estruturados. A cozinha é ampla, com muitos utensílios que são de uso comum, além de água e gás, então não é preciso levar fogareiro e panelas para fazer a comida. Há 2 quartos com 6 beliches cada e um sótão para bivaque com 18 lugares. O banho quente deve ser reservado antecipadamente, é limitado em 5 minutos, mas vale cada centavo dos R$ 15,00 reais que custou. Após um banho revigorante, fizemos o jantar. Mais a noite subi novamente para os castelos para tirar fotos e apreciar a noite.

Abrigo do Açú

Os Castelos do Açú é uma formação realmente impressionante. Enormes blocos de pedra que parecem formar uma enorme cúpula, um verdadeiro templo de pedra. Era maior do que eu imaginava quando via fotos do local. Ao lado se encontra uma área de camping e é possível também bivacar nas formações, onde até um pequeno muro foi levantado para este fim. De lá tem-se uma bela vista para a Serra dos Órgãos com seu belo desenho característico.


2º Dia de Travessia

Acordamos cedo para ver o nascer do Sol, que finalmente surgiu por detrás dos 3 Picos, logo acima das “torres” da Serra dos Órgãos. Na face leste do Castelos do Açu há uma corda para facilitar a subida e poder apreciar o espetáculo natural. Tomamos um café, arrumamos as coisas e partimos novamente por volta das 9:00 hrs.

Nascer do Sol visto dos Castelos do Açú

A trilha continua pelo outro lado do abrigo, onde há também uma área de camping. Começa a descer e depois a subir o primeiro morro, o Morro do Marco. Logo após a descida do morro está a bifurcação para os Portais de Hércules. Acabamos deixando os portais para outra ocasião, o Sol estava alto e eu queria mesmo era ver o nascer do Sol ali.

Equipe pronta para a trilha do segundo dia

A trilha vai descendo até o Vale da Luva, onde já há vegetação e um pouco de lama. Sobe novamente até o Morro da Luva e segue descendo até um paredão onde há uma “escadinha” de ferro fixada na pedra, local conhecido como Elevador. Segue novamente subindo o morro, passando pelas pedras da Tartaruga e Dinossauro e desce novamente passando por um trecho com bastante vegetação e começa a subir novamente. Passa pela Pedra da Baleia e desce até um ponto mais técnico conhecido como Mergulho, onde é necessário descer pelas pedras com a ajuda das mãos.

Pedra do Sino e Garrafão vistos da trilha

Elevador

Após o mergulho passamos por um ponto com bastante lama e paramos num local aberto na vegetação para fazer um lanche e tomar uma água, além de esperar pelos mais atrasados. Por falar em água há muitos pontos de coleta pela trilha, não precisando porém levar peso excessivo com muito volume de água. Um cantil somente já é mais que o suficiente.

A trilha segue subindo novamente até um trecho íngrime de escalaminhada. Neste local há uma passagem conhecida como Cavalinho, onde é preciso “montar” a pedra para poder atravessar com o mochilão. Há a opção de alguém içar as mochilas com uma corda e ajudar aqueles que tem mais dificuldade para subir pela pedra. Continua com mais um pouco de escalaminhada e logo já se encontra a bifurcação para o cume da Pedra do Sino. Seguimos descendo e já era por volta das 15:00 hrs quando chegamos até o abrigo para deixar as coisas e descansar um pouco. O Abrigo 4 é muito semelhante ao do Açú, tanto na estrutura quanto na organização. Após um bom descanso na varanda, pouco antes do pôr-do-sol subimos até a Pedra do Sino para apreciar o visual.

Por-do-Sol na Pedra do Sino

A trilha até o cume da Pedra do Sino é bem curta, com cerca de 20 minutos já estávamos no topo, que possui uma área bem ampla. Dali se tem uma vista panorâmica de todo o parque. Pode-se avistar os Castelos do Açu e quase todo o caminho até ali. Avista-se também uma parte da Baía de Guanabara e algumas cidades, principalmente Teresópolis, além dos picos da Serra dos Órgãos e mais no fundo o Parque Estadual dos 3 Picos.

Voltamos para o abrigo assim que o Sol se pôs, onde tomamos banho, fizemos nossa refeição e curtimos o final da noite na varanda, antes de dormir e se preparar para o último dia de travessia


3º Dia de Travessia

Acordamos bem cedo no último dia para poder apreciar o nascer do Sol no cume da Pedra do Sino, que surgiu por detrás dos 3 Picos e aos poucos foi cobrindo de dourado os picos da Serra dos Órgãos, que ficam abaixo da Pedra do Sino. Após o espetáculo natural revigorante, descemos e fomos conhecer uma outra pedra que fica atrás do abrigo, numa trilha bem curtinha.

Luzes de Teresópolis antes do nascer do Sol

Nascer do Sol na Pedra do Sino

Tomamos nosso café, arrumamos as coisas e por volta das 10:00 hrs, sem muita pressa, seguimos a trilha para o último trecho de travessia, que seria basicamente só descida. A trilha segue descendo pela mata, muitas vezes em zigue-zague, com belos mirantes onde é possível ver a cidade de Teresópolis. Também passa por muitos pontos de água e vai acompanhando o rio, com algumas quedas pelo caminho, até à barreira, ponto conhecido como final/início da trilha para a Pedra do Sino, onde há estacionamento e estrutura de banheiros.

Teresópolis vista do mirante

Deixei as coisas na Barreira e fui buscar o carro no estacionamento mais abaixo, a cerca de 1 km descendo pela estrada, o que facilitou bastante a volta, economizando uma pernada até a portaria da sede, que fica bem mais distante. Já era por volta das 14:00 hrs quando saímos do parque para procurar algum restaurante para almoçar. Resolvemos ficar este ultimo dia no camping da Sede Teresópolis novamente, para poder voltar descansados e com mais tranqüilidade no dia seguinte, onde foi possível também apreciar o visual da serra vista pela Trilha Cartão Postal.

Trilha Cartão Postal

A travessia da Serra dos Órgãos, ou Petrô-Terê, é com certeza umas das mais belas do Brasil. Considero também uma das trilhas mais gostosas que já fiz, com muitos trechos dos mais diferentes terrenos, não ficando somente num tipo de paisagem ou vegetação, com vários pontos de dificuldade que variam do fácil ao mais técnico, como o Cavalinho, ou mesmo cansativo, como a extensa subida do primeiro dia. Os abrigos facilitam bastante a vida dos montanhistas, principalmente o banho quente que é um verdadeiro luxo para o lugar.

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