TRAVESSIA DA SERRA FINA - 4 DIAS
Conhecida como uma das mais difíceis travessias do Brasil, a Travessia da Serra Fina é, antes de tudo, um dos roteiros mais clássicos do montanhismo brasileiro. O percurso possui este nome por basicamente percorrer ao longo de toda a crista de um conjunto de picos e morros que estão entre os mais altos da Serra da Mantiqueira, entre eles a Pedra da Mina, com 2798 metros de altitude, quarto ponto mais alto do Brasil. A região, localizada entre as divisas dos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, caracteriza-se por longos trechos de caminhada em altitudes elevadas, desníveis acentuados, dificuldade técnica, pouca água e ambiente hostil, exigindo alto condicionamento físico e experiência em trekking.
Mas antes de tudo isso, a Travessia da Serra Fina é, também, umas das mais belas do montanhismo brasileiro, com lindas vistas panorâmicas de tirar o fôlego, maciços rochosos e vales elevados salpicados por flores de beleza singular da típica vegetação de altitude. O ideal, portanto, é a realização da travessia em 4 dias com 3 pernoites, para que se possa apreciar toda a sua beleza e magnitude.
1º Dia - Toca do Lobo - Camping Maracanã
Chegamos à cidade de Passa Quatro por volta das 7:30 hs da manhã do dia 18 de agosto de 2025. O transfer estava combinado para as 7:00 hrs, portanto perdemos nossa vez e tivemos que esperar até as 9:30 hrs para que pudéssemos nos deslocar para o início da trilha, que acabamos por iniciar somente por volta das 10:45 hrs.
Após o percurso de carro chegamos ao local de entrada, onde há um posto da Ruah, associação de moradores que atualmente administram a visitação do local, e já iniciamos a trilha, passando pelo ponto inicial chamado de Toca do Lobo, que tem este nome por ter uma cavidade que se assemelha a uma toca e onde há também um riacho. Após este ponto a trilha já começa subindo de forma bastante íngreme passando pelo Morro do Cruzeiro e segue por uma crista sinuosa até o Pico do Quartzito, passando por um ponto de água em sua base, onde há um tonel instalado com algumas torneiras.
Passando pelo primeiro cume a trilha desce levemente e segue novamente sinuosa e estreita por um ponto conhecido como Passo dos Anjos e vai se elevando cada vez mais até a base do Capim Amarelo, passando por alguns pontos de camping. A trilha vai se elevando e ficando mais técnica e difícil à medida que se aproxima do cume, exigindo bastante do condicionamento físico. Após um ponto onde há escadas fixas instaladas chegamos ao primeiro grande pico do dia, o cume do Capim Amarelo, com 2392 metros de altitude.
Após uma breve parada para um merecido descanso e um lanche para renovar as energias, seguimos pela trilha que agora desce bruscamente e, após uma pequena elevação, chegamos ao local de camping conhecido por Maracanã, que tem este nome por possuir bastante espaço para barracas, embora possua um certo declive e muitas pedras que atrapalham a montagem das barracas.
Já era por volta das 17:00 hrs e, montadas as barracas, fomos até o ponto de água que fica mais adiante na trilha e voltamos para fazer a janta e descansar do pesado primeiro dia de trilha.
2º Dia - Camping Maracanã - Pedra da Mina
Acordamos bem cedo, tomamos nosso café, desmontamos o acampamento e já seguimos viagem novamente por volta das 8:30 hrs. Abasteci novamente meu cantil ao passar novamente pelo ponto de água do Maracanã.
A trilha do segundo dia sobe por uma crista e vai alternando sobe e desce por vários morros, um deles conhecido como Melano, com 2559 metros de altitude. É um dos pontos mais bonitos de toda a travessia, onde se avista o Capim Amarelo de um lado e o maciço da Pedra da Mina de outro. Destaque também para o Vale do Paraíba, quase sempre coberto por uma camada de nuvens. Ao fundo, atrás do Capim Amarelo é possível ver o Pico do Itaguaré e, próximo, a dupla Pico dos Marins e Marinzinho.
Percorrida a crista de morros a trilha desce um pouco beirando o vale que antecede a Pedra da Mina, passando por um ponto de camping conhecido como Cachoeira Vermelha, onde há uma grota com uma água descendo por uma parede avermelhada que dá nome ao local. Subindo mais um pouco chega-se a outro ponto de água, desta vez um riacho que tem por nome Rio Claro, último ponto de abastecimento de água antes da subida para o cume da Pedra da Mina. Neste ponto enchemos totalmente nossos recipientes de água para evitar qualquer dificuldade no acampamento.
A trilha continua a subir passando por um ótimo local de acampamento, conhecido como Floresta Encantada, local preferido de muitos visitantes do local, com um espaço plano ótimo para a montagem de barracas e bem protegido por um aglomerado de pequenas árvores que destoam da paisagem inóspita que domina a paisagem.
Após este ponto a trilha segue subindo pelo maciço, exigindo bastante do fôlego. A trilha segue pelo alto dando a impressão de nunca chegar o cume, mas, após passar por alguns totens avista-se a placa e a incrível vista panorâmica de toda a região é a grande recompensa pelo todo esforço exigido. A Pedra da Mina possui 2798 metros de altitude. De um lado os picos que antecederam o percurso com o Capim Amarelo em destaque e, do outro, os picos que serão o desafio do próximo dia, com destaque para o Três Estados; e ao lado dele o Cara de Touro, que é tão alto quanto. Além dos picos mais próximo, muitos outros da Serra da Mantiqueira, até onde a vista alcança, rodeada pelos vales à volta.
Chegamos bem mais cedo neste dia que o anterior, às 13:40 hrs. Escolhemos um ponto para montarmos as barracas e curtimos bastante o local até o belíssimo pôr do sol que a natureza nos brindou. Caindo a noite, fizemos nossa janta, mas o forte vento nos fez abrigar mais cedo dentro das barracas para descansar para o próximo dia.
3º Dia - Pedra da Mina - Pico dos Três Estados
Ventou bastante durante a noite, o que fez a temperatura cair bastante me dissuadindo de levantar cedo para ver o Sol nascer. De todo modo não enrolamos muito e levantamos acampamento para seguir o percurso, saindo, como no dia anterior, novamente por volta das 8:30 hrs.
A trilha desce o maciço até o Vale do Ruah, que agora contorna pela encosta do morro à direita e sobe o outro morro que agora é chamado de Pico do Contorno, deixando o percurso mais exigente, porém, muito mais bonito. Do alto do cume do Contorno se avista a Pedra da Mina imponente, o belíssimo Vale do Ruah e a cadeia de cumes da crista que vamos percorrer até o Pico dos Três Estados, e ainda o Alto dos Ivos atrás.
Descemos até a beira do vale onde passa o rio com água abundante, sendo o último ponto de abastecimento do dia; e também do dia seguinte, pois o próximo ponto de água fica somente quase no final da trilha. Abastecemos todos os cantis e seguimos pela trilha que sobe a crista.
A trilha sobe e desce pela crista até o ponto mais alto desta cadeia de morros chamado de Cupim do Boi, com 2543 metros de altitude. O sol estava bem forte e alguns pontos cobertos pela vegetação foram um alento. Descendo o cume do Cupim do Boi a trilha desce bastante até um ótimo local para camping chamado de Bambuzinho, totalmente protegido pela vegetação que o nomeia. Paramos na sombra e aproveitamos para fazer um lanche e recuperar o fôlego, seguindo novamente.
Passando pelo Bambuzinho a trilha sobe novamente pela encosta íngreme do Três Estados, passando por um trecho pedregoso e, numa subida que exige bastante fôlego, chegamos ao cume às 14:40 hrs.
O cume do Pico dos Três Estados, com 2665 metros de altitude, é mais estreito que o da Pedra da Mina, logo, terminada a subida já chega-se ao topo, onde há bons lugares para acampar. Sobre uma pedra do outro lado está uma estrutura de ferro formada por três hastes com os nomes dos estados que nomeiam o pico: Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, ponto da tríplice divisa.
Montamos acampamento e aproveitamos o resto do dia, que terminou novamente com um belíssimo pôr do sol. Fizemos a janta e fomos descansar para o próximo e último dia.
4º Dia - Pico dos Três Estados - Estacionamento da Sede Nativa
Levantamos acampamento no horário habitual e seguimos para o último e derradeiro dia de travessia novamente por volta das 8:30 hrs. A trilha desce o Pico dos Três Estados seguindo novamente por uma crista de morros até o Alto dos Ivos, com 2521 metros de altitude, onde aproveitamos o sinal para contactar o resgate. A trilha neste trecho ainda é bastante técnica e exige bom fôlego.
Após o último cume a trilha vai descendo abruptamente, passando ainda por muitos trechos de sobe e desce até que a vegetação de altitude vai sendo substituída cada vez mais por uma vegetação mais alta e arbustiva, passando por alguns pontos cobertos onde há a presença de muitas bromélias decorando o ambiente.
A trilha final fica cada vez menos acidentada à medida que as árvores vão dominando a paisagem, mas ainda assim é longa e cansativa, até virar um verdadeiro estradão. Quase no final paramos no último ponto de água para lavar o rosto e nos refrescar, aproveitando para fazer um último lanchinho. Andando mais um pouco já chegamos à Sede da Nativa às 12:40 hs, local que atualmente está desativado e nos encontramos com o carro do transfer que já chegava para o resgate.
A Travessia da Serra Fina é, sem dúvidas, uma das mais belas e exigentes do montanhismo brasileiro, com belíssimas paisagens a perder de vista. O visual panorâmico que os pontos mais altos proporcionam são indescritíveis, podendo se avistar tantos os vários outros picos da Mantiqueira como os imensos vales, com destaque para o Vale do Paraíba, quase sempre se apresentando como um mar de nuvens. As dificuldades, entretanto, ficam mais pelas longas distâncias e escassos pontos de água, mas os aspectos técnicos não se diferenciam muito de outras travessias de nosso montanhismo.
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